5 de novembro de 2011

MINICONTO

O SOFÁ

Na semana dos namorados talvez ele tenha ficado saudoso. Enquanto esticava a manta do seu sofá preferido e organizava os cadernos dos jornais espalhados por lá. Lembrou de tudo. Quarta-feira era o dia do sofá. Tempos em que ele era mais romântico, um amante à moda antiga, sim do tipo que mandava flores, como na música. E tinha amasso no portão. Primeiro a pediu em namoro, isto significava ter direito ao sofá. Noites e noites namoraram, roubaram beijos na saída, espiaram se alguém vinha vindo. Nem falaria isso aos filhos. A sua filha então, nem pensar. Agora o sofá está partido ao meio nas quartas-feiras à noite, metade futebol, metade notebook. Quase uma central de internet, uma lanhouse mesmo. E todo mundo pula e torce pelo time por ali. E a pipoca rola solta, chocolate, guaraná. Tudo mudou. Claro, o mundo está em evolução. E ele continua afofando o sofá e pensando. Tudo era tão romântico, até ganhar flores. O que seria ganhar uma rosa hoje? Nada diferente do que um cartão virtual. Ele vem se abrindo, com trilha sonora, tudo é muito bonito. Chega a ser emocionante, mensagens profundas, do fundo da alma. E ele suspira. E sente falta do seu tempo, tenta adaptá-lo ao atual, mas a lembrança não permite comparações. Preservou o sofá, foi seu maior defensor durante anos, o esticou direitinho. Agora ele olha a filha sorrindo para a tela do notebook. Ela ri e digita. Dá mais um sorriso largo. Às vezes parece falar sozinha. Ouve música, canta e volta a digitar. Por um lado ele fica até feliz. Lá no velho sofá, com o computador no colo, em plena quarta-feira, ela está namorando. No facebook.





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