30 de março de 2014

Na paisagem





Naquela manhã ela andava distraída, fotografando as folhas do caminho no celular. Ele andava distraído também. Com fones no ouvido, olhando firme para a tela. Volta e meia ria. Ela seguia com seriedade seu velho caminho para o trabalho, curtindo a paisagem da estação. Ele não presta atenção no caminho. Vai no automático. Ela registra a imagem. Para ele, imagem é só um detalhe. Enquanto viaja na música, ela fotografa. De repente, ela se fixa numa folha linda, uma mistura de tons intactos na calçada. Pára bruscamente. Mira o celular. Ele esbarra nela. Vai reagir, mas encontra aquele olhar. Nesse momento tudo muda, só a paisagem fica inerte para acompanhar. Estava escrito. Vários poetas deixaram provas desse momento com suas próprias caligrafias. Depois o homem passou a limpo e tentou entendê-las. Até hoje tentam. Mas não tem explicação para um momento desses. Ela sugere um café para o final da tarde. Ele concorda. A poesia continua. A vida segue...


"O que há melhor no amor é a iluminância.
Mas, ai de nós! não vem de nós. Viria
De onde? Dos céus?… Dos longes da distância?…"


(de Soneto Sonhado, Manuel Bandeira)



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